Você está vivo
Todo meu respeito[1]
[1] A velha mistura – Golpe de Estado;
Uma das poucas bandas nacionais que aparecem no livro Passa lá em casa é justamente o Golpe de Estado. Nunca gostei de Legião Urbana e sempre achei, como a maioria dos críticos, que o Golpe não teve o lugar que merece na cena rocker brasileira. A principal trilha sonora é a música brasileira feita na primeira metade do século XX, leia-se: Carmen Miranda, Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues, Nelson Gonçalves, com raras exceções. The Cure ali, Julian Casablancas acolá. Já tinha finalizado o livro, ou acreditei que tinha, quando ano passado depois de tanto tempo alguém teve a dignidade de tocar Golpe de Estado. Tinha esquecido ou estava inerte em minha mente, o quanto a banda é legal. Sempre gostei de pessoas que tem uma visão lucida do país em que vivemos, Ultraje a Rigor, Ira, Camisa de Vênus, Raul Seixas ou mesmo Cazuza, em doses moderadas é claro.
Mas voltando no dia em que ouvi A velha mistura corri para o livro e assinalei onde a frase ficaria bacana encabeçando um trecho do livro. O subtítulo desse trecho é: Tapetum lucidum 2[1].
[1] Tapetum lucidum, uma capa de células refletoras situadas por detrás da retina. Estas células refletem os raios de luz que não foram absorvidos no primeiro impacto, concedendo assim aos cones e aos bastonetes da retina uma segunda oportunidade. Estes também são os responsáveis de que os olhos dos gatos brilhem no escuro, já que qualquer pequena luz que recebam se reflete pela retina.
O texto narra aproximadamente o final ou inicio da década de 40. O lugar é uma praia em Santa Monica na Califórnia. Os personagens são Carmen Miranda, Cary Grant, Marilyn Monroe, Greta Garbo e o mordomo de minha vampira, Albert. Eles acabam se deparando com objetos inesperados encontrados nas águas.
Albert corria de braços abertos para as águas. Ele achou um fêmur.
Carmen corria de braços abertos para as águas. Ela achou uma caveira.
Garbo não corria de braços abertos para as águas. Ela preferia ficar sozinha na areia. E por isso mesmo não achou nada.
O acontecimento não se resume num crânio ou fêmur e sim a quem pertenceu àqueles ossos, coisa que o zumbi Albert sabe ao olhar para proporções fora do normal.
Hélcio Aguirra 03 de Março de 1959 – 21 de Janeiro de 2014
Uma pequena homenagem!