Quem não se lembra de uma das mais marcantes cenas de Drácula, quando o navio que traz o vampiro chega com o comandante morto, preso ao leme? Um cão enorme que pula na agua e some em Londres? O trecho que narra a vigem do conde para Inglaterra é uma das passagens mais assustadoras do livro e as adaptações para o cinema não deixam por menos.
A forma que o autor conta a historia é um ponto bastante interessante. Em forma de diário os personagens Jonathan Harker, Mina ou Arthur Holmwood, narram seu encontro e desencontro com o vampiro. Essas narrativas, de pontos de vista diferentes, dão vida ao personagem maligno.
O menos vampiresco dos personagens de Passa lá em casa é justamente o que faz uma homenagem a Drácula, o jornalista Leo Giorgi Fiaschi.
O personagem Nicolas tem um amigo, até aí sem novidades. Acontece que eu queria um amigo que fosse o oposto de um empresário que leva uma vida pacata sem grandes novidades. Mais um que mora num condomínio fechado, tem uma irmã e pretensões socialistas. Durante um tempo fiquei matutando sobre esse amigo que não acontecia. Por fim conversando com um amigo da faculdade, no caso Rodrigo Giorgi, perguntei sobre as férias dele. A gente sempre se esbarrava pelos corredores da FAU-Mack e parava para conversar sobre Sergio Leone e outros filmes que gostamos. O cara passou as férias a la Indiana Jones. Viajou pelo Egito, Marrocos (lembrando O homem que sabia demais, encenado pelo arquiteto James Stewart), e outros lugares diferentes de nossa cultura. Lembro que na época estava havendo as manifestações no Egito e o lugar estava meio perigoso. Ele visitou outros lugares do continente africano e o Oriente Médio. Era uma semente a germinar. O tempo passou e apenas uma fração do personagem estava em minha mente quando me deparei com uma reportagem de uma espécie de navio-condomínio. Pois era tudo que eu esperava, e assim o personagem se formou em mim com moradia, profissão. A aparência física que roubei de um amigo, Leandro César, o nome do meu cunhado Leo Alyanak mais a personalidade viajante de meu amigo Rodrigo Giorgi. Esses 3 homens tem todas aquelas qualidades lindas que passamos a vida perseguindo.
O navio que me surpreendeu foi o Magellan (hoje, nem sei se esse navio ainda existe). A proposta era simples, compre um apartamento e passe a vida sobre os oceanos. Mas vamos aos números, afinal luxo sem expressões quantitativas não é digno. Esse endereço único passara por 300 portos, mais 150 países dentre locais como Cannes, Veneza, Istambul, Caribe…
Além de ter uma marina retrátil onde o morador pode ir mar afora com lanchas, barcos e jet-skis há piscinas externas e internas cascatas d ‘ água e jardins internos forjando um clima tropical. Há um telescópio com um astrônomo a bordo. Quatro restaurantes cinco estrelas, cassino, nightclub teatro e heliporto. Salas de conferencia, supermercados, lojas, quadra de tênis, minigolfe, spa, salas de ginasticas e muitos outros atrativos, enfim uma pequena cidade flutuante.
Os apartamentos vão desde duplex a unidades com um dormitório. Também há cabines para um publico flutuante.
Outros navios-condomínios foram construídos seguindo esse modelo.
Eis que meu personagem encontra-se perfeitamente instalado em um. Repórter-fotográfico que faz matérias para revistas de turismo não poderia estar em um lugar melhor.
Aonde Leo se encontra com Drácula?
Na forma que apresento a narrativa de Leo. Como disse, ele é um dos principais amigos de Nicolas e sabemos o que se passa em sua vida por meio dos e-mails que eles trocam. Essa é uma pequena homenagem minha a esse romance romântico tão simbólico e popular da literatura mundial. Em duas passagens Nicolas vai de encontro ao amigo que em uma passagem visita Nicolas que passa por uma situação dolorida.
Em um dos primeiros e-mails ele conta sobre algumas pessoas que conheceu e a emoção de estar sempre no mar.
“Conheci um ex-cônsul americano, fizemos amizade. Ele conhece quase todo o globo. É formado em paleontologia com especialização em paleoclimatologia. Tb é cientista político e poliglota! o cara é duca. A maioria das pessoas q moram ou viajam no navio são velhos. A transição é constante q nem da para conhecer as td mundo. Tem gente q comprou ap aqui e ainda ñ embarcou. outros embarcam e depois vão embora. Tem um casal de lésbicas d terceira idade q algumas pessoas apelidaram de Gertrude e Alice[1]. vi as fotos das duas, as verdadeiras q eram amigas de Pablo Picasso, e as daqui são um pouco + bonitas. Mas feiosas mesmo assim. Deu p/ entender?”
Para Leo a segurança, é como na maioria das vezes, o ponto central de sua escolha apesar de camuflar a tendência ao luxo. Porém nada na vida é como sempre se planeja. Ele acaba visualizando um mundo que deveria estar encoberto pelo cenário que o navio conduz.
Não é o que acontece.
Logo sabemos da prisão de um traficante no navio, afinal a mais globalizada das coisas no mundo deu as caras logo. Entre Santarém em Portugal, Espanha e Veneza, Leo reconhece e é reconhecido por um ex-colega de escola que virou travesti e se prostitui na Europa.
Sobre a região ibérica ele ainda relata um assassinato:
“De qualquer forma segundo ele, existiu uma civilização anterior a dos egípcios e que passou a eles a construção das pirâmides. Não sei se acredito. Bom, na verdade fiquei muito abalado com o assassinato da mulher. Ela foi
decapitada nas ruínas do Castelo de São João Batista. Quando visitamos o lugar o corpo já tinha sido removido. Um homem de aparência horrível dava testemunho para polícia. Acho que faziam reconstituição do crime. Perdi o tesão pela ilha sendo ela ou não resquícios de Atlântida”. Aqui faço a primeira referência a Atlântida.
A viagem continua rumo ao Mar Negro. Nessa etapa, Nicolas resolve se juntar a embarcação para conhecer países vampirescos como a Romênia. Aqui lemos e-mails trocados entre Nicolas e Abigail e suas impressões fantasmagóricas da viagem. Uma tempestade assola o navio, Leandro some e há um cadáver na janela do navio. Ele visita as ruinas do castelo de Drácula e da condessa Bathory. Entre Ucrânia, Romênia e Bulgária ele não se dá conta, mas ali tem contato indireto com vampiros reais.
“Subiu pelas rampas… Linda d morrer… loira c/ cabelos ondulados e olhos muito azuis… vestida d forma impecável, Armani, e com algumas joias, nenhuma sua Gail, uma pena… atras dela uns carregadores, p/ minha surpresa ciganos levavam um caixote grande… ela percebeu q eu olhava e voltou os olhos p/ mim… Senti medo… Engraçado… Me pareceu uma sentença d morte… foi medo d morte… simplesmente horrível…”
Depois há a questão do morcego, a mulher morta e o grito fantasmagórico que quase enfarta sua avó que naquele momento visitava o neto. Durante o percurso, Leandro não recebe apenas a visita de seus avós, mas também de sua mãe.
O navio passa pela Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Groelândia, Nova York e chega ao Brasil onde sua mãe desembarca. Seus avós seguem por Japão, Macau, Butão…
No Japão adquire uma cama Sergio Rodrigues que presenteia os avós e agradece a Nicolas a sala de jantar do mesmo designer.
Em Butão tem uma historia ardida regada a pimenta.
Segue Havaí a Galápagos, Ilha de Páscoa, Haiti. No Haiti toma a decisão de criar uma ONG após ver a pobreza que se encontra o país. Tenta ingressar nas ONU para trabalho voluntario em países assolados por guerras e pobreza. Não consegue. Toma conhecimento da ilha Pacific Vortex do qual fica horrorizado.
A última narrativa com Leo ele se encontra no Egito em um dia estranho 11 do 11 de 2011. Lá mais uma vez ouve falar em Atlântida e Nicolas mais uma vez se encontra com ele.
Não é atoa que o titulo dos seus e-mails é sempre O Homem teme o Tempo, mas o Tempo teme as Pirâmides. Assim voltamos à narrativa de Rodrigo quando estávamos na faculdade e eu penava por um personagem bacana.