Navy Decor

O ser humano é mesmo incrível, falem o que quiserem sobre a destruição da natureza etc. morar num navio é incrível - Leandro César Ilustração: Shag
O ser humano é mesmo incrível, falem o que quiserem sobre a destruição da natureza etc. morar num navio é incrível – Leo Giorgi Fiaschi
Ilustração: Shag

Quem não se lembra de uma das mais marcantes cenas de Drácula, quando o navio que traz o vampiro chega com o comandante morto, preso ao leme? Um cão enorme que pula na agua e some em Londres? O trecho que narra a vigem do conde para Inglaterra é uma das passagens mais assustadoras do livro e as adaptações para o cinema não deixam por menos.

Pelas águas do Tânisa
Pelas águas do Tâmisa Londres

A forma que o autor conta a historia é um ponto bastante interessante. Em forma de diário os personagens Jonathan Harker, Mina ou Arthur Holmwood, narram seu encontro e desencontro com o vampiro. Essas narrativas, de pontos de vista diferentes, dão vida ao personagem maligno.

O menos vampiresco dos personagens de Passa lá em casa é justamente o que faz uma homenagem a Drácula, o jornalista Leo Giorgi Fiaschi.

Se for humano, pode entrar! Se for fantasma, atravesse a porta! - Almanaque Disney nº 118 Foto: Dino Olivieri
Se for humano, pode entrar! Se for fantasma, atravesse a porta! – Almanaque Disney nº 118
Foto: Dino Olivieri

O personagem Nicolas tem um amigo, até aí sem novidades. Acontece que eu queria um amigo que fosse o oposto de um empresário que leva uma vida pacata sem grandes novidades. Mais um que mora num condomínio fechado, tem uma irmã e pretensões socialistas. Durante um tempo fiquei matutando sobre esse amigo que não acontecia. Por fim conversando com um amigo da faculdade, no caso Rodrigo Giorgi, perguntei sobre as férias dele. A gente sempre se esbarrava pelos corredores da FAU-Mack e parava para conversar sobre Sergio Leone e outros filmes que gostamos. O cara passou as férias a la Indiana Jones. Viajou pelo Egito, Marrocos (lembrando O homem que sabia demais, encenado pelo arquiteto James Stewart), e outros lugares diferentes de nossa cultura. Lembro que na época estava havendo as manifestações no Egito e o lugar estava meio perigoso. Ele visitou outros lugares do continente africano e o Oriente Médio. Era uma semente a germinar. O tempo passou e apenas uma fração do personagem estava em minha mente quando me deparei com uma reportagem de uma espécie de navio-condomínio. Pois era tudo que eu esperava, e assim o personagem se formou em mim com moradia, profissão. A aparência física que roubei de um amigo, Leandro César, o nome do meu cunhado Leo Alyanak mais a personalidade viajante de meu amigo Rodrigo Giorgi. Esses 3 homens tem todas aquelas qualidades lindas que passamos a vida perseguindo.

O navio que me surpreendeu foi o Magellan (hoje, nem sei se esse navio ainda existe). A proposta era simples, compre um apartamento e passe a vida sobre os oceanos. Mas vamos aos números, afinal luxo sem expressões quantitativas não é digno. Esse endereço único passara por 300 portos, mais 150 países dentre locais como Cannes, Veneza, Istambul, Caribe…

Tem uma questão que me preocupa, é o fato de ter um numero pequeno de moradores no navio, fico imaginando que vai ficar pior que cidade do interior - Trecho do livro Passa lá em casa Jardim do navio Magellan
Tem uma questão que me preocupa, é o fato de ter um numero pequeno de moradores no navio, fico imaginando que vai ficar pior que cidade do interior – Trecho do livro Passa lá em casa
Jardim do navio Magellan
Outro ângulo dos jardins
Outro ângulo dos jardins

Além de ter uma marina retrátil onde o morador pode ir mar afora com lanchas, barcos e jet-skis há piscinas externas e internas cascatas d ‘ água e jardins internos forjando um clima tropical. Há um telescópio com um astrônomo a bordo. Quatro restaurantes cinco estrelas, cassino, nightclub teatro e heliporto. Salas de conferencia, supermercados, lojas, quadra de tênis, minigolfe, spa, salas de ginasticas e muitos outros atrativos, enfim uma pequena cidade flutuante.

Os apartamentos vão desde duplex a unidades com um dormitório. Também há cabines para um publico flutuante.

Outros navios-condomínios foram construídos seguindo esse modelo.

Planta que usei como referência para o apartamento do jornalista
Planta que usei como referência para o apartamento do jornalista
Escadas e elevadores do Magellan. Vista longitudinal do navio
Escadas e elevadores do Magellan. Vista longitudinal do navio

Eis que meu personagem encontra-se perfeitamente instalado em um. Repórter-fotográfico que faz matérias para revistas de turismo não poderia estar em um lugar melhor.

2 vezes Zanini, poltrona de Zanini de Zanini
2 vezes Zanini, poltrona de Zanini de Zanini
Luminária de Zanini de Zanini
Luminária de Zanini de Zanini
Uma cama para Leandro da Scholten and Baijings
Uma cama para Leandro da Scholten and Baijings

Aonde Leo se encontra com Drácula?

Leandro é o melhor amigo de Nicolas
Leo é o melhor amigo de Nicolas

Na forma que apresento a narrativa de Leo. Como disse, ele é um dos principais amigos de Nicolas e sabemos o que se passa em sua vida por meio dos e-mails que eles trocam. Essa é uma pequena homenagem minha a esse romance romântico tão simbólico e popular da literatura mundial. Em duas passagens Nicolas vai de encontro ao amigo que em uma passagem visita Nicolas que passa por uma situação dolorida.

Em um dos primeiros e-mails ele conta sobre algumas pessoas que conheceu e a emoção de estar sempre no mar.

Conheci um ex-cônsul americano, fizemos amizade. Ele conhece quase todo o globo. É formado em paleontologia com especialização em paleoclimatologia. Tb é cientista político e poliglota! o cara é duca. A maioria das pessoas q moram ou viajam no navio são velhos. A transição é constante q nem da para conhecer as td mundo. Tem gente q comprou ap aqui e ainda ñ embarcou. outros embarcam e depois vão embora. Tem um casal de lésbicas d terceira idade q algumas pessoas apelidaram de Gertrude e Alice[1]. vi as fotos das duas, as verdadeiras q eram amigas de Pablo Picasso, e as daqui são um pouco + bonitas. Mas feiosas mesmo assim. Deu p/ entender?”

Viagem que faz o mar em torno do mar - Paulinho da Viola
Viagem que faz o mar em torno do mar – Paulinho da Viola

Para Leo a segurança, é como na maioria das vezes, o ponto central de sua escolha apesar de camuflar a tendência ao luxo. Porém nada na vida é como sempre se planeja. Ele acaba visualizando um mundo que deveria estar encoberto pelo cenário que o navio conduz.

Não é o que acontece.

Logo sabemos da prisão de um traficante no navio, afinal a mais globalizada das coisas no mundo deu as caras logo. Entre Santarém em Portugal, Espanha e Veneza, Leo reconhece e é reconhecido por um ex-colega de escola que virou travesti e se prostitui na Europa.

Portugal
Portugal
Cartão-postal onde você destaca e monta a Sagrada Família de Antoní Gaudí
Cartão-postal onde você destaca e monta a Sagrada Família de Antoní Gaudí
As ruas de Veneza em foto de Gerd Evermann
As ruas de Veneza em foto de Gerd Evermann

Sobre a região ibérica ele ainda relata um assassinato:

“De qualquer forma segundo ele, existiu uma civilização anterior a dos egípcios e que passou a eles a construção das pirâmides. Não sei se acredito. Bom, na verdade fiquei muito abalado com o assassinato da mulher. Ela foi

A ponte está ainda aberta: se teu carregamento arriscar-se a decepcionar, retorna em teu caminho. Teme a ignorância do coração. Barco, retorna, retorna! - Bishr Fares Costa Concordia fotografado por um satelite
A ponte está ainda aberta: se teu carregamento arriscar-se a decepcionar, retorna em teu caminho. Teme a ignorância do coração. Barco, retorna, retorna!Bishr Fares
Costa Concordia fotografado por um satélite

decapitada nas ruínas do Castelo de São João Batista. Quando visitamos o lugar o corpo já tinha sido removido. Um homem de aparência horrível dava testemunho para polícia. Acho que faziam reconstituição do crime. Perdi o tesão pela ilha sendo ela ou não resquícios de Atlântida”. Aqui faço a primeira referência a Atlântida.

A viagem continua rumo ao Mar Negro. Nessa etapa, Nicolas resolve se juntar a embarcação para conhecer países vampirescos como a Romênia. Aqui lemos e-mails trocados entre Nicolas e Abigail e suas impressões fantasmagóricas da viagem. Uma tempestade assola o navio, Leandro some e há um cadáver na janela do navio. Ele visita as ruinas do castelo de Drácula e da condessa Bathory. Entre Ucrânia, Romênia e Bulgária ele não se dá conta, mas ali tem contato indireto com vampiros reais.

“Subiu pelas rampas… Linda d morrer… loira c/ cabelos ondulados e olhos muito azuis… vestida d forma impecável, Armani, e com algumas joias, nenhuma sua Gail, uma pena… atras dela uns carregadores, p/ minha surpresa ciganos levavam um caixote grande… ela percebeu q eu olhava e voltou os olhos p/ mim… Senti medo… Engraçado… Me pareceu uma sentença d morte… foi medo d morte… simplesmente horrível…”

A suavidade do luar era um bálsamo calmante, e a tranquila vastidão do firmamento trouxe-me uma nova sensação de liberdade e frescor. Esta noite eu estava decidido a não voltar aos meus sombrios aposentos. Dormiria aqui onde, em outros tempos, sedutoras damas reclinadas nestas ricas poltronas entoavam canções, fruindo uma vida de encantos, enquanto seus mimosos seios arfavam pelo regresso de seus amados, quase sempre empenhados em piedosas guerras - Bram Stoker
A suavidade do luar era um bálsamo calmante, e a tranquila vastidão do firmamento trouxe-me uma nova sensação de liberdade e frescor. Esta noite eu estava decidido a não voltar aos meus sombrios aposentos. Dormiria aqui onde, em outros tempos, sedutoras damas reclinadas nestas ricas poltronas entoavam canções, fruindo uma vida de encantos, enquanto seus mimosos seios arfavam pelo regresso de seus amados, quase sempre empenhados em piedosas guerras Bram Stoker
Teatro do navio Queen Elizabeth II
Teatro do navio Queen Elizabeth II
Leandro compra uma cama Sergio Rodrigues e agradece a Nicolas a sala de jantar do mesmo designer - Esboço do Sergio Rodrigues
Leo compra uma cama Sergio Rodrigues e agradece a Nicolas a sala de jantar do mesmo designer – Esboço do Sergio Rodrigues

Depois há a questão do morcego, a mulher morta e o grito fantasmagórico que quase enfarta sua avó que naquele momento visitava o neto. Durante o percurso, Leandro não recebe apenas a visita de seus avós, mas também de sua mãe.

O navio passa pela Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Groelândia, Nova York e chega ao Brasil onde sua mãe desembarca. Seus avós seguem por Japão, Macau, Butão…

No Japão adquire uma cama Sergio Rodrigues que presenteia os avós e agradece a Nicolas a sala de jantar do mesmo designer.

Outra referência brasileira vem da arquiteta e artista Patricia Azoni
Outra referência brasileira vem da arquiteta e artista Patricia Azoni
Luminária de Emmanuel Babld
Luminária de Emmanuel Babled

Em Butão tem uma historia ardida regada a pimenta.

Direto do Japão tela de Rogers Shimomura
Direto do Japão tela de Rogers Shimomura

Segue Havaí a Galápagos, Ilha de Páscoa, Haiti. No Haiti toma a decisão de criar uma ONG após ver a pobreza que se encontra o país. Tenta ingressar nas ONU para trabalho voluntario em países assolados por guerras e pobreza. Não consegue. Toma conhecimento da ilha Pacific Vortex do qual fica horrorizado.

A última narrativa com Leo ele se encontra no Egito em um dia estranho 11 do 11 de 2011. Lá mais uma vez ouve falar em Atlântida e Nicolas mais uma vez se encontra com ele.

Não é atoa que o titulo dos seus e-mails é sempre O Homem teme o Tempo, mas o Tempo teme as Pirâmides. Assim voltamos à narrativa de Rodrigo quando estávamos na faculdade e eu penava por um personagem bacana.

O Homem teme o Tempo, mas o Tempo teme as Pirâmides - Ditado árabe Foto: David Henderson
O Homem teme o Tempo, mas o Tempo teme as Pirâmides – Ditado árabe
Foto: David Henderson

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