SCISSOR SISTER[1]
Meu conto de fadas particular
Era uma vez uma vampira muito chateada com o fluxo das situações.
Pois ela resolveu dar um tempo para sua própria existência. Foi tomada de solidão e negação. Não aparece gente há muito tempo em seu castelo. Ela não quer ninguém. Apenas isso, sentir dó de si por aquilo. Maldita vampira que destruiu seu grande amor. E segundo disse, foi por amor. Não há amor. Amor era o que ela sentia por Bartira a ponto de deixar o sangue no belo corpinho da mocinha e nunca transferi-lo para o seu. Agora, só Deus sabe. Será isso? É uma opinião.
Quando os olhos de Yvian se abriram pra noite a falta de sangue tirava sua vitalidade. A solidão trazia paz. Foi bem-vinda durante muito tempo. Durante muito tempo não se alimentou.
Bartira tão quente a estremecer ao mínimo toque. Transformada na coisa horrível. Desconfiava que a seu toque ela não mais estremeceria e onde estava agora?
Adivinhando sua saturação em ficar só, elas apareceram.
Três luzes vindas de fora. A janela aberta por ela toda noite. O ar fresco que vinha da floresta. Yvian deixava a brisa entrar. Entraram as luzes. Três pontinhos luminosos. Azul, amarelo e vermelho. Da primeira vez deixou que elas simplesmente dançassem em seus dedos. Iluminavam sua mão. Depois se aproximou para ver melhor. Doeu a vista. Eram igual ao sol.
Todos os dias elas estavam lá, na mesma hora.
As luzes apareceram com um saco a flutuar e uma criança dentro. O saco a flutuar e alguma coisa dentro.
Aos poucos o sangue foi devolvendo a formosura.
Os cabelos pretos brilhavam a menor incidência de luz. A pele branca pálida. Os olhos de um verde translúcido. O sorriso nos lábios voltou pra logo sumir.
Lucrezia apareceu.
— Demônia, onde está ela?
— Do que me acusa? Tudo que fiz foi por amor.
— Amor? – deu uma puta gargalhada – onde está o seu amor que não vejo?
— Em meu coração. Quer que o tire para averiguar?
— Pro inferno você e seu coração. No momento estou preocupada com o meu. O que fez a Bartira?
— Querida Yvian, se engana em relação à Bartira. Imagina, mal ela pôs os olhos sobre mim, quis me foder. Eu disse não todas às vezes. Mas não tive escolhas. Fui.
— Mentira. Bartira nada sabia sobre o amor entre mulheres.
— Apenas o que ensinou pra ela. E digo foi uma excelente professora. Apesar de não me sentir atraída. Porém devo confessar que não me decepcionei.
— Ah! – gritou – Eu vou destruí-la.
— Destruir-me? Escuta – a voz virou gutural e estrondosa como um trovão – Como confia numa mulher assim? Eu ao contrário tenho esperado tanto para tê-la em meus fieis braços.
Yvian recuou.
— Basta desse retiro idiota. Nada pode trazer Bartira de volta entenda. Se continuar assim eu vou destruí-la com a ponta do dedo. E terei muito prazer nisso. Sabe que sou mais poderosa que você.
— Sim – um fio de voz.
— Você não imagina do que sou capaz.
— Uma pergunta…
— Sim?
— De quem são as luzes que aparecem aqui todos os dias?
— Vanuccia não esteve aqui inúmeras vezes?
— Sim.
Lembrou. Vanuccia aparecia de uma névoa. Linda com um tecido que mostrava suas formas. Fizeram amor todas às vezes.
A sereia ofusca a luz vinda da pequena janela.
— Vanuccia…
— Sim?
— De quem são as luzes que aparecem aqui todos os dias?
— Não seria de Lucrezia? Ela a quer viva.
— E você não?
— Eu sei me virar.
Vanuccia beijava cada centímetro do corpo de Yvian.
Lucrezia rasgou a roupa. Jogou Yvian no chão e a despiu. Beijou os seios pequenos com suas aureolas rosadas e bicos pontudos. Ela sugou com delicadeza.
— Vou mostrar a você o que é devoção.
Elas cruzaram as pernas uma sobre a outra fazendo contato. Gritavam e os lobos gemiam longe. As presas feriam seus lábios. As três luzes se multiplicavam em inúmeras luzes. As duas quentes estremeciam a carne. Os dedos de Lucrezia rompiam Yvian.
Lucrezia prostrada a sua frente fazia do Monte de Vênus sua adoração.
Now the city blacks out the sun,
Is it just me or is everyone hiding out between the lines?[2]
Categoria: Memórias Póstumas de Cosma e Damiana
Subcategoria: Exlibris 2
Sobre: Trechos de meus livros
Imagem: Malena Morgan e Natasha Malkova, Gerda Wegener, Milo Manara, Soey Milk, Paul-Emile Becat, Edouard Chimot, Édouard-Henri Avril
Livro: Passa lá em casa
Autora: Fernanda Machado de Farias