Quem não se lembra de uma das mais marcantes cenas de Drácula, quando o navio que traz o vampiro chega com o comandante morto, preso ao leme? Um cão enorme que pula na água e some em Londres? O trecho que narra a vigem do conde para Inglaterra é uma das passagens mais assustadoras do livro e as adaptações para o cinema não deixam por menos.
A forma que o autor conta a historia é um ponto bastante interessante. Em forma de diário os personagens Jonathan Harker, Mina ou Arthur Holmwood, narram seu encontro e desencontro com o vampiro. Essas narrativas, de pontos de vista diferentes, dão vida ao personagem maligno.
O menos vampiresco dos personagens de Passa lá em casa é justamente o que faz uma homenagem a Drácula, o jornalista Leo Giorgi Fiaschi.
O personagem Nicolas tem um amigo, até aí sem novidades. Acontece que eu queria um amigo que fosse o oposto de um empresário que leva uma vida pacata sem grandes novidades. Mais um que mora num condomínio fechado, tem uma irmã e pretensões socialistas. Durante um tempo fiquei matutando sobre esse amigo que não acontecia. Por fim conversando com um colega de faculdade perguntei sobre as férias dele. O cara passou as férias a la Indiana Jones. Viajou pelo Egito, Marrocos e outros lugares diferentes de nossa cultura. Lembro que na época estava havendo as manifestações no Egito e o lugar estava meio perigoso. Ele visitou outros lugares do continente africano e o Oriente Médio. Era uma semente a germinar. O tempo passou e apenas uma fração do personagem estava em minha mente quando me deparei com uma reportagem de uma espécie de navio-condomínio. Pois era tudo que eu esperava, e assim o personagem se formou em mim com moradia, profissão e a aparência física que roubei de três amigos, incluindo os nomes, Leo Giorgi Fiaschi.
O Navio que não trazia Drácula
O navio que me surpreendeu foi o Magellan. A proposta era simples, compre um apartamento e passe a vida sobre os oceanos. Mas vamos aos números, afinal luxo sem expressões quantitativas não é digno. Esse endereço único passara por 300 portos, mais 150 países dentre locais como Cannes, Veneza, Istambul, Caribe…
Além de ter uma marina retrátil onde o morador pode ir mar afora com lanchas, barcos e jet-skis há piscinas externas e internas cascatas d’água e jardins internos forjando um clima tropical. Há um telescópio com um astrônomo a bordo. Quatro restaurantes cinco estrelas, cassino, nightclub teatro e heliporto. Salas de conferencia, supermercados, lojas, quadra de tênis, minigolfe, spa, salas de ginasticas e muitos outros atrativos, enfim uma pequena cidade flutuante.
Os apartamentos vão desde duplex a unidades com um dormitório. Também há cabines para um publico flutuante.
Outros navios-condomínios foram construídos seguindo esse modelo.
Eis que meu personagem encontra-se perfeitamente instalado em um. Repórter-fotográfico que faz matérias para revistas de turismo não poderia estar em um lugar melhor.
De e-mail a e-mail
Estruturalmente, Drácula, é um romance epistolar, ou seja, contada como uma série de cartas, entradas de diário, registros de bordo etc.
Na forma que apresento a narrativa de Leo. Como disse, ele é um dos principais amigos de Nicolas e sabemos o que se passa em sua vida por meio dos e-mails que eles trocam. Essa é uma pequena homenagem minha a esse romance romântico tão simbólico e popular da literatura mundial. Em duas passagens Nicolas vai de encontro ao amigo que em uma passagem visita Nicolas que passa por uma situação dolorida.
Em um dos primeiros e-mails ele conta sobre algumas pessoas que conheceu e a emoção de estar sempre no mar.
“Conheci um ex-cônsul americano, fizemos amizade. Ele conhece quase todo o globo. É formado em paleontologia com especialização em paleoclimatologia. Tb é cientista político e poliglota! o cara é duca. A maioria das pessoas q moram ou viajam no navio são velhos. A transição é constante q nem da para conhecer as td mundo.
Tem gente q comprou ap aqui e ainda ñ embarcou. outros embarcam e depois vão embora. Tem um casal de lésbicas d terceira idade q algumas pessoas apelidaram de Gertrude e Alice[1]. vi as fotos das duas, as verdadeiras q eram amigas de Pablo Picasso, e as daqui são um pouco + bonitas, mas feiosas mesmo assim. Deu p/ entender?”
[1] Gertrude Stein (3 de fevereiro de 1874, Pittsburgh, EUA – 27 de julho de 1946, Paris, França) foi uma escritora, poeta e feminista estadunidense. Tinha um apreciável círculo de amigos, como Pablo Picasso, Matisse, Georges Braque, Derain, Juan Gris, Apollinaire, Francis Picabia, Ezra Pound, Ernest Hemingway e James Joyce, isso apenas pra citar alguns. Alice B. Toklas, sua secretária e companheira durante vinte e cinco anos;
Spin-off: Em busca dos deuses astronautas, a árca de noé
O personagem Leo Georgi Fiaschi acaba continuando a aventura que se da no livro Passa Lá em casa. Periodicamente vou compartilhar novas histórias envolvendo esse personagem que no livro era personagem secundário. Há nítidas influências vindas de arqueólogos reais como Coronel Percy Harrison Fawcett, Roy Chapman Andrews, que influenciaram Carl Barks a fazer antológicas aventuras pelo mundo e espaço com os patos. Essa histórias serão publicadas exclusivamente no blog Fantasmas Solitários na categoria, O Homem teme o Tempo, mas o Tempo teme as Pirâmides.
O texto completo sobre o desenvolvimento da personagem você pode ler aqui.
A última narrativa com Leo ele se encontra no Egito em um dia estranho 11 do 11 de 2011. Lá mais uma vez ouve falar em Atlântida e Nicolas mais uma vez se encontra com ele.
Esse dia o Black Sabbath anuncia sua volta com os membros originais.
Abaixo um trecho do livro Passa lá em casa onde Leandro manda um e-mail para seu amigo Nicolas.
Para: nick_ albuquerque_nico@***.com.br
Assunto: O homem teme o Tempo, mas o Tempo teme as pirâmides
Nicolas desculpe a demora em responder, antes d entrar num assunto impossível vou descrever minha visita ao Egito. Como vc sabe sempre pensei no Egito de forma apaixonada ou mesmo fanática. Porém preferi esperar essa paixão diminuir com o passar do tempo p/ visitá-lo de forma clara. Chegou a hora e estou tranquilo, mas algo q aconteceu levou minha existência p/ longe do que era ate dias atrás…
Estivemos em Sharm El Sheikh durante duas semanas antes de virmos p/ o Cairo. Um grande paraíso, onde praticamos mergulho. Meu interesse foi mais histórico, pois estou meio farto de paraísos. Pegamos um avião p/ o monte Sinai. Qnd era pequeno ouvi dizer q ainda hoje se escuta vozes e é um lugar suscetível a terremotos. Ñ ouvi nd ou presenciei algo anormal…
No museu do Cairo lembrei d vc ao ver ataúde de Ra-Ur talhado em formas geométricas, alem claro do tesouro d Tutancâmon. O espaldar do trono é de tirar o fôlego, o sarcófago me deu arrepios em saber q o cara tava lá td esse tempo… o prédio do museu é horroroso em estilo neoclássico, acho… será uma praga arquitetônica? Como usei o plural estou c/ o casal lesbico, Clementine e Julie.
Estivemos em Luxor, deixei Gizé p/ depois, onde lembrei novamente d vc. Tenho passe livre, pois as duas mulheres são cientistas, visitamos a tumba d Ramsés eu vi, advinha, carpideiras.
Leo sempre termina seus e-mail com a frase: Já volto…
Note que algumas palavras estão abreviadas, sem acento, como costumamos fazer em mensagens informais com nossos amigos. Essa será a estrutura que usarei para lhes apresentar a Spin-off e algum tema específico. Desde que terminei o livro em 2013 pensava em dar continuidade as aventuras Leo Giorgi Fiaschi pelo mundo. Um novo grupo de personagens e personagens que já fazem parte da história estarão nas viagens de navio.
Sobre: Textos que escrevi, escrevo e outros textos
Imagem em destaque: O Okinawa Churaumi Aquarium (沖縄美ら海 Okinawa Churaumi Suizokukan ? ) Está localizado dentro do Parque Expo Oceano em Okinawa, Japão . Ele recebeu seu visitante 20000000 em 30 de março de 2010 [3] e é membro da Associação Japonesa de Zoos e Aquários (JAZA). Foi o maior aquário do mundo, até que foi superado pela Georgia Aquarium em 2005.